22 de junho de 2012

Resenha: Aprendendo a ler o mundo...


CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: A Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Por: Cláudio de Aguiar[1]



O presente texto trata-se de uma resenha crítica e reflexiva, tendo como ponto de partida a leitura do artigo “Aprendendo a ler o mundo: A Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental” de Helena Copetti Callai, que tem como idéia central a importância de se aprender Geografia nas séries iniciais do ensino fundamental, a partir da leitura do mundo, da vida e do espaço vivido. Com o objetivo de adquirir e construir conhecimento de como trabalhar a leitura de mundo com a disciplina de Geografia nesse nível de ensino, estendendo esse conhecimento para a formação acadêmica e profissional do mesmo.

Atualmente, mesmo com todos os avanços tecnológicos, ainda é comum ver professores não só das séries inicias do ensino fundamental, mas, também de outro nível de ensino sem apoio técnico e teórico e que ainda continuam, de modo geral, a ensinar Geografia apoiando-se apenas na descrição dos fatos e ancorando-se quase exclusivamente no livro didático. E isso nos faz refletir sobre a qualidade de ensino que está sendo oferecidas nas escolas referentes à disciplina aqui discutida (a Geografia). No entanto arrisco-me a fazer as seguintes indagações: quem hoje sabe utilizar o mapa do bairro em que mora? Quem foi alfabetizado fazendo leitura de mundo através da Geografia? Por que será que isso não aconteceu ou não acontece?
Podemos perceber que mesmo sendo uma disciplina interdisciplinar a Geografia durante muito tempo nos currículos escolares vem sendo apresentada como uma disciplina dualista, onde o trabalho social não interage com o trabalho natural, ou seja, sociedade e natureza não pode se juntar, desconsiderando toda a possibilidade de conhecer e entender o espaço geográfico. Para os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) o estudo da sociedade e da natureza deve ser realizado de forma conjunta. Mas essa não é questão a ser discutida e sim a leitura de mundo. Citando o PCN,

O trabalho com leitura em si, tem como finalidade a formação de leitores competentes e, consequentemente, a formação de escritores, pois a possibilidade de produzir textos eficazes tem sua origem na prática de leitura, espaço construção de intertextualidade e fonte de referências modelizadoras. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE LÍNGUA PORTUGESA, p.40)


Diante desta ideia, o que mais despertou a minha atenção no artigo de Callai é quando a autora diz que “a leitura de mundo é fundamental para que todos nós, que vivemos em sociedade, possamos exercitar a cidadania”. E esse é o grande objetivo da Geografia fazer com que o aluno se torne um cidadão crítico e reflexivo a partir de uma educação voltada para o saber e para o pensar. Com base na leitura do artigo de Callai, passamos compreender que fazer leitura de mundo não é fazer uma leitura apenas do mapa, ou pelo mapa, embora ele seja muito importante. É também fazer leitura do mundo da vida, construídos cotidianamente. Porém ler o mundo da vida é reconhecer a sua dinamicidade superando o que está posto como verdade absoluta. É de suma importância que o educando saiba fazer a leitura de mundo, como foi dito anteriormente, a leitura de mundo o levará a exercitar a cidadania. E, exercer a cidadania fará com que esse aluno, que ele próprio se sinta parte integrante do ambiente e também agente ativo e passivo das transformações da sociedade na qual está inserido. Ainda citando o PCN,


[...] os professores precisam também desenvolver-se como profissionais e como sujeitos críticos na realidade em que estão, isto é, precisam poder situar-se como educadores e como cidadãos e, como tais, participantes do processo de construção da cidadania, de reconhecimento de seus direitos e deveres de valorização profissional. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS / APRESENTAÇÃO DOS TEMAS TRANSVERSAIS, 2001, p. 31)


Encaminhar o aluno para aprender a ler o mundo é também papel fundamental da Geografia. Por isso, cabe ao professor criar oportunidades de aprendizagem que leve o seu educando a desenvolver essa habilidade, pois os mesmos não chegam à escola meramente vazias como se pensava antigamente, pois as mesmas já chegam às instituições de ensino fazendo a leitura da vida. Portanto, nós como educadores precisamos a cada dia está acompanhado as mudanças que vem ocorrendo na prática docente e pedagógica das escolas, segundo Paulo Freire (200, p 81) “mudar é difícil mais é possível”. É, a partir deste saber fundamental que vamos programar nossa ação política pedagógica, não importa se o projeto com o qual nos comprometemos é de alfabetização de adultos ou de crianças, se de ação sanitária, se de evangelização, se de formação de mão-de-obra técnica. O êxito de um educador está centralizado na certeza que é possível e preciso mudar.
Tratando-se do ensino de Geografia nas séries iniciais do Ensino Fundamental as mudanças devem ocorrer principalmente na prática pedagógica do professor, o mesmo deve respeitar os conhecimentos prévios dos seus alunos, levá-los a refletir sobre o que está mais próximo da tua realidade. Para LIBÂNEO (1994), o professor deve ter conhecimento das características sociais, culturais e individuais dos alunos, bem como nível de preparo escolar em que se encontram. Daí a importância do diálogo entre professor e aluno antes da atividade a ser desenvolvida.
Então, por que não começar o estudo dos mapas a partir do mapa do bairro em que eles estão inseridos até chegar ao mapa mundial? Estudar as mudanças climáticas a partir do ambiente natural em que ele convive? Por que não estudar as questões sociais, econômicas e políticas a partir de uma temática que está ligada a uma necessidade local da sua própria comunidade? Ler o mundo não é fantasiar, é fazer a criança refletir sobre o que é real em tua vida e que isso lhe traga uma aprendizagem significativa para que eles possam levar consigo para toda vida. Porém isso também requer uma reforma curricular. Para Tomaz Tadeu da Silva (1999), o currículo é considerado um artefato social e cultural, não é um elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada do conhecimento social, não é um elemento transcendente e atemporal, ele tem uma história, vinculada a formas específicas e contingentes de organização da sociedade e da educação.
Assim não é diferente com a Geografia, ambas possuem determinações sociais de sua história, de sua produção contextual, assim como o currículo a Geografia é um campo que está sempre em processo de formação, construção e desconstrução e ambas devem estar abertas as novas mudanças sociais e as necessidades exigidas pelas novas clientelas. Agora após ter refletido a partir da leitura do artigo de Callai e, ter feito uma breve leitura no PCN de Geografia, passamos a ter uma melhor compreensão com relação ao ensino da disciplina Geografia e da importância da leitura de mundo a partir da mesma. Compreendemos que ensinar Geografia não é decorar conceitos de relevo, pontos cardeais e outros, mas, refletir sobre o mesmo, substituindo “o que é” para o “como e por que acontece”. Para que realmente aconteça uma aprendizagem significativa no qual não somente o educador, mas também o educando possa discutir sobre um determinado fato de forma crítica e reflexiva, atuando de forma ativa e não passiva no exercício da cidadania.



Referências:

SILVA, Tomaz Tadeu da. -  Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do Currículo / 3. Ed. - Belo Horizonte: Autêntica, 2009. 156p.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Prefácio de Moacir Gadotti e tradução de Lilian Lopes Martin. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1979, 79 p.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática – São Paulo: Cortez, 1994, - (Coleção magistério. Série formação do professor).

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Apresentação dos tema transversais e ética. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: Mec. SEF. 2001; 52P.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1997; 144p

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: História, geografia. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997; 166P.





[1] Licenciado em Pedagogia da Faculdade Dom Pedro II. cauaguiargadita@hotmail.com

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