CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: A Geografia nos
anos iniciais do Ensino Fundamental.
Por:
Cláudio de Aguiar[1]
O presente texto
trata-se de uma resenha crítica e reflexiva, tendo como ponto de partida a
leitura do artigo “Aprendendo a ler o mundo: A Geografia nos anos iniciais do
Ensino Fundamental” de Helena Copetti Callai, que tem como idéia central a
importância de se aprender Geografia nas séries iniciais do ensino fundamental,
a partir da leitura do mundo, da vida e do espaço vivido. Com o objetivo de
adquirir e construir conhecimento de como trabalhar a leitura de mundo com a
disciplina de Geografia nesse nível de ensino, estendendo esse conhecimento
para a formação acadêmica e profissional do mesmo.
Atualmente,
mesmo com todos os avanços tecnológicos, ainda é comum ver professores não só
das séries inicias do ensino fundamental, mas, também de outro nível de ensino
sem apoio técnico e teórico e que ainda continuam, de modo geral, a ensinar
Geografia apoiando-se apenas na descrição dos fatos e ancorando-se quase
exclusivamente no livro didático. E isso nos faz refletir sobre a qualidade de
ensino que está sendo oferecidas nas escolas referentes à disciplina aqui
discutida (a Geografia). No entanto arrisco-me a fazer as seguintes indagações:
quem hoje sabe utilizar o mapa do bairro em que mora? Quem foi alfabetizado
fazendo leitura de mundo através da Geografia? Por que será que isso não
aconteceu ou não acontece?
Podemos perceber
que mesmo sendo uma disciplina interdisciplinar a Geografia durante muito tempo
nos currículos escolares vem sendo apresentada como uma disciplina dualista,
onde o trabalho social não interage com o trabalho natural, ou seja, sociedade
e natureza não pode se juntar, desconsiderando toda a possibilidade de conhecer
e entender o espaço geográfico. Para os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
o estudo da sociedade e da natureza deve ser realizado de forma conjunta. Mas
essa não é questão a ser discutida e sim a leitura de mundo. Citando o PCN,
O trabalho com leitura em si, tem como finalidade a formação
de leitores competentes e, consequentemente, a formação de escritores, pois a
possibilidade de produzir textos eficazes tem sua origem na prática de leitura,
espaço construção de intertextualidade e fonte de referências modelizadoras.
(PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE LÍNGUA PORTUGESA, p.40)
Diante desta
ideia, o que mais despertou a minha atenção no artigo de Callai é quando a
autora diz que “a leitura de mundo é fundamental para que todos nós, que
vivemos em sociedade, possamos exercitar a cidadania”. E esse é o grande
objetivo da Geografia fazer com que o aluno se torne um cidadão crítico e
reflexivo a partir de uma educação voltada para o saber e para o pensar. Com
base na leitura do artigo de Callai, passamos compreender que fazer leitura de
mundo não é fazer uma leitura apenas do mapa, ou pelo mapa, embora ele seja
muito importante. É também fazer leitura do mundo da vida, construídos
cotidianamente. Porém ler o mundo da vida é reconhecer a sua dinamicidade superando
o que está posto como verdade absoluta. É de suma importância que o educando
saiba fazer a leitura de mundo, como foi dito anteriormente, a leitura de mundo
o levará a exercitar a cidadania. E, exercer a cidadania fará com que esse
aluno, que ele próprio se sinta parte integrante do ambiente e também agente
ativo e passivo das transformações da sociedade na qual está inserido. Ainda citando
o PCN,
[...] os professores precisam também desenvolver-se
como profissionais e como sujeitos críticos na realidade em que estão, isto é,
precisam poder situar-se como educadores e como cidadãos e, como tais,
participantes do processo de construção da cidadania, de reconhecimento de seus
direitos e deveres de valorização profissional. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
/ APRESENTAÇÃO DOS TEMAS TRANSVERSAIS, 2001, p. 31)
Encaminhar o aluno para aprender a ler o mundo
é também papel fundamental da Geografia. Por isso, cabe ao professor criar
oportunidades de aprendizagem que leve o seu educando a desenvolver essa
habilidade, pois os mesmos não chegam à escola meramente vazias como se pensava
antigamente, pois as mesmas já chegam às instituições de ensino fazendo a
leitura da vida. Portanto, nós como educadores precisamos a cada dia está
acompanhado as mudanças que vem ocorrendo na prática docente e pedagógica das
escolas, segundo Paulo Freire (200, p 81) “mudar é difícil mais é possível”. É,
a partir deste saber fundamental que vamos programar nossa ação política
pedagógica, não importa se o projeto com o qual nos comprometemos é de
alfabetização de adultos ou de crianças, se de ação sanitária, se de
evangelização, se de formação de mão-de-obra técnica. O êxito de um educador
está centralizado na certeza que é possível e preciso mudar.
Tratando-se do
ensino de Geografia nas séries iniciais do Ensino Fundamental as mudanças devem
ocorrer principalmente na prática pedagógica do professor, o mesmo deve
respeitar os conhecimentos prévios dos seus alunos, levá-los a refletir sobre o
que está mais próximo da tua realidade. Para LIBÂNEO (1994), o professor deve ter conhecimento das características sociais,
culturais e individuais dos alunos, bem como nível de preparo escolar em que se
encontram. Daí a importância do diálogo entre professor e aluno antes da
atividade a ser desenvolvida.
Então, por que não começar o estudo
dos mapas a partir do mapa do bairro em que eles estão inseridos até chegar ao
mapa mundial? Estudar as mudanças climáticas a partir do ambiente natural em
que ele convive? Por que não estudar as questões sociais, econômicas e
políticas a partir de uma temática que está ligada a uma necessidade local da
sua própria comunidade? Ler o mundo não é fantasiar, é fazer a criança refletir
sobre o que é real em tua vida e que isso lhe traga uma aprendizagem significativa
para que eles possam levar consigo para toda vida. Porém isso também requer uma
reforma curricular. Para Tomaz Tadeu da Silva (1999), o currículo é considerado
um artefato social e cultural, não é um elemento inocente e neutro de
transmissão desinteressada do conhecimento social, não é um elemento
transcendente e atemporal, ele tem uma história, vinculada a formas específicas
e contingentes de organização da sociedade e da educação.
Assim não é
diferente com a Geografia, ambas possuem determinações sociais de sua história,
de sua produção contextual, assim como o currículo a Geografia é um campo que
está sempre em processo de formação, construção e desconstrução e ambas devem
estar abertas as novas mudanças sociais e as necessidades exigidas pelas novas
clientelas. Agora após ter refletido a
partir da leitura do artigo de Callai e, ter feito uma breve leitura no PCN de
Geografia, passamos a ter uma melhor compreensão com relação ao ensino da
disciplina Geografia e da importância da leitura de mundo a partir da mesma. Compreendemos
que ensinar Geografia não é decorar conceitos de relevo, pontos cardeais e
outros, mas, refletir sobre o mesmo, substituindo “o que é” para o “como e por
que acontece”. Para que realmente aconteça uma aprendizagem significativa no
qual não somente o educador, mas também o educando possa discutir sobre um
determinado fato de forma crítica e reflexiva, atuando de forma ativa e não
passiva no exercício da cidadania.
Referências:
SILVA,
Tomaz Tadeu da. - Documentos de Identidade: uma
introdução às teorias do Currículo
/ 3. Ed. - Belo Horizonte: Autêntica, 2009. 156p.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Prefácio
de Moacir Gadotti e tradução de Lilian Lopes Martin. Rio de Janeiro. Paz e
Terra, 1979, 79 p.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática – São
Paulo: Cortez, 1994, - (Coleção magistério. Série formação do professor).
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